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O ChatGPT viralizou!

De janeiro para cá, um assunto se tornou hype nas bolhas das redes sociais: e aí, você já usou o ChatGPT? Para quem está por fora, o ChatGPT é um robô de bate-papo (chatbot), baseado por inteligência artificial e lançado em novembro de 2022 pela startup norte-americana OpenAI.

O ChatGPT foi treinado para interagir com os usuários de maneira natural e conversacional, conseguindo produzir textos sobre inúmeros temas e reunir informações sobre assuntos diversos, de listas de casamento a artigos, roteiros, poesias, ensaios, revisões. Serve até para dar conselhos pessoais.

Apenas dois meses após o lançamento global, o chatbot da OpenAI viralizou imediatamente e atingiu 100 milhões de usuários. Em comparação com o TikTok, por exemplo, demorou cerca de nove meses para atingir esse total.

Diante desse alvoroço, gigantes como Microsoft, Google e Baidu se movimentaram nessa corrida tecnológica. Segundo o site da revista Wired, a Microsoft investiu 10 bilhões de dólares no criador do ChatGPT este ano. A empresa anunciou, em fevereiro, que seu navegador Edge e a ferramenta de busca Bing serão oferecidos com uma versão atualizada da IA usada pelo ChatGPT. O Google, para fazer frente a tal fenômeno, divulgou em fevereiro o Bard, seu chatbot com IA. O principal mecanismo de busca da China, o Baidu, também tem trabalhado em um bot de idioma chinês igual ao ChatGPT.

Editor de tecnologia do The Guardian, Dan Milmo afirmou que a reação dessas gigantes ao ChatGPT mostra que há um apetite por pesquisa aprimorada por IA e por respostas a perguntas que são mais do que apenas um link para um site. Em entrevista à BBC, professor de ciência da computação da Universidade de Oxford, professor de ciência da computação da Universidade de Oxford, sobre o ChatGPT, afirmou que uma das razões pelas quais se tornou viral é porque esta é a primeira vez que alguém com um navegador da web pode experimentar a IA. “Você conversa com ela e ela responde”, disse ao veículo.

Já usou alguma vez?

Perguntei, num grupo de amigos, quem já usa o ChatGPT. Um amigo escreveu: “Quando eu escrevo mais que um parágrafo em inglês, costumo verificar no Google Tradutor para ver se não errei alguma palavra. Às vezes, eu jogo no ChatGPT”. Outro disse: “Achei impressionante. Para prospectar um cliente de terceirização de serviços financeiros, perguntei quais são as dificuldades de gestão e finanças de uma empresa de eventos e a resposta surgiu em tópicos pertinentes, passíveis de colocar numa apresentação”.

No Twitter, já há professor ensinando as pessoas como fazer pesquisa científica com o ChatGPT, além de algumas brincadeiras de usuários com o fato de o chatbot da OpenAI, por vezes, ser impreciso ou prolixo em informações. No Twitter, um usuário pediu para o ChatGPT fazer uma carta direcionada a alguém que acabou de entrar na faculdade de medicina e se disse impressionado. Um amigo pediu para ele escrever um release e, apesar de não sair perfeito, saiu melhor do que o esperado.

Tudo mudará?

O impacto em toda a indústria de mídia e nas profissões ligadas à criação de conteúdo é evidente. De acordo com um memorando obtido pelo Wall Street Journal, o BuzzFeed usará a tecnologia da OpenAI para aprimorar seus questionários e personalizar alguns conteúdos. Editor-chefe da principal Science, Holden Thorp proibiu, em sua política editorial atualizada, o uso de texto do ChatGPT ao afirmar que ele não poderia ser listado como autor. O mesmo fez a Springer-Nature, que publica quase 3 mil periódicos.
Um redator do The Guardian cravou: “Tenho certeza de que a IA vai tirar meu emprego. O ChatGPT levou 30 segundos para criar um artigo que levaria horas para escrever”. Um repórter da CBN pediu para o ChatGPT escrever um texto de análise econômica criticando as falas do presidente Lula contra o Banco Central ao estilo do comentarista Carlos Alberto Sardenberg. Com exceção de chamar Lula de ex-presidente (até porque a versão atual do ChatGPT utiliza usa informações publicadas na web até 2021, o comentarista classificou o texto do ChatGPT como “claramente coerente”.

Outra questão relevante envolve ética e regulamentação da IA. Um artigo no site do Instituto Poynter apontou que o ChatGPT permite criar sites de fakes news em minutos. Consultor sobre mídia, streaming e TV, Guilherme Ravache escreveu em seu perfil no Twitter que o anúncio do chatbot do Google, o Bard, é uma péssima notícia para os jornalistas e veículos de notícias. “É mais conteúdo sendo copiado sem crédito nem remuneração, além de menos tráfego para os sites que sobrevivem com a publicidade”, observou. Para Jeff Chang, diretor digital da Condé Nast, em Taiwan, em longo prazo a IA transformará definitivamente a indústria de mídia em todos os aspectos – desde a criação até a entrega de conteúdo e a captura de valor.

Encerro este texto com uma reflexão que a professora titular da universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tatiana Roque, fez em seu perfil no Twitter: “O ChatGPT atualiza uma frase que ficou grudada em minha memória, escrita por Godard: ‘Nosso século está em busca das questões perdidas, cansado de tantas respostas’. É isso. Todo mundo impressionado com as respostas da IA, mas a pergunta somos ainda nós que fazemos.”