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Maio já foi das noivas

Agência RS Blog - Maio já foi das noivas

Houve um tempo em que o mês de maio exalava cheiro de flor de laranjeira e promessa de altar. Era o mês das noivas, dos vestidos brancos sonhados em silêncio, das vitrines com véus esvoaçantes e das revistas com capas rendadas anunciando tendências para um grande dia que, diziam, devia ser o maior de todos. Maio, então, era um suspiro romântico no calendário.

Mas algo aconteceu. O tempo passou, os amores mudaram de roupa — trocaram a formalidade do cetim pela leveza do linho ou, às vezes, pela ausência total de cerimônia. Maio já não é o que foi. Talvez continue sendo um mês bonito, com seus dias indecisos entre o outono e o frio mais sério. Só que agora divide espaço com outras urgências.

Amores menos performáticos e mais realistas

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2011 e 2021, o número de “sim” no altar caiu 26,3%, enquanto as uniões de escovas de dente sob o mesmo teto (consensuais e sem formalização) aumentaram 37,6% no mesmo período.

Hoje, maio é das mães, dos enfermeiros, da prevenção à violência obstétrica e da redução de acidentes de trânsito. As noivas foram ficando para depois, ou nem chegaram. Os casamentos diminuíram, os custos aumentaram cerca 30% nos últimos anos, segundo pesquisa da Noivas Magazine, e o altar cedeu espaço para a convivência sem papel passado.

União estável, com ou sem noiva

A lei brasileira, que antes só reconhecia o amor sob as bênçãos do matrimônio, hoje protege essas uniões estáveis com os mesmos direitos (e deveres) de um casamento formal. Desde 2002, o Código Civil brasileiro assegura a esses casais: herança, pensão e partilha de bens. E, desde 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as uniões homoafetivas às heteroafetivas, alargando ainda mais o conceito de família. Amor, afinal, não se mede por registros em cartório, mas pela vontade de construir uma história juntos.

Pode ser que ainda haja noivas em maio. Mas elas já não monopolizam a cena. Dividem espaço com outras vozes, outras pautas, outros ritos. Talvez seja assim mesmo… o amor se adapta, resiste, se reinventa. E, no fundo, o que importa não é o mês, nem o vestido. É a escolha, o afeto, o caminho trilhado a dois — ou a três, por que não?

Maio já foi das noivas. Hoje, é do que a gente quiser amar.