O assessor de imprensa trabalha para uma instituição ou um profissional terem visibilidade no noticiário e nas redes sociais. Além disso, esse profissional cumpre uma responsabilidade social de mediar a comunicação entre seu assessorado e os jornalistas e influencers com o objetivo final de disseminar informações confiáveis à população.
Atendendo sociedades científicas, instituições como hospitais, a indústria farmacêutica e profissionais, entre outros atores da saúde e da ciência, o assessor de imprensa pode contribuir no enfrentamento de problemas de saúde pública. Por exemplo, no apoio às campanhas de vacinação que, atualmente, apresentam dados preocupantes no Brasil.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), considerando as vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2016, a taxa de imunização da população chegou a 50,4% e, em 2021, a 60,7%, sendo que o ideal é 90%, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS). Com isso, há a preocupação de que doenças já erradicadas retornem.
Para dar o exemplo da vacinação contra a poliomielite, em 2012, 96,5% das crianças de até quatro anos foram vacinadas, mas em 2021 a porcentagem caiu para 67,6%. A doença é caracterizada por causar paralisia infantil e está erradicada no Brasil desde 1989, devido ao sucesso da campanha cujo personagem é o Zé Gotinha.
Segundo pesquisadores, entre os motivos para a queda na taxa de imunização estão a notificação do registro de vacinação, a percepção incorreta de que não é preciso mais vacinar contra doenças que desapareceram e a difusão de fake news pelo movimento antivacina. Com um perfil heterogêneo, esse movimento tem a adesão de segmentos religiosos, de políticos conservadores e, inclusive, de profissionais da saúde e da ciência.
Em assessoria de imprensa, é possível realizar ações cotidianas, como a produção de releases e de material para as redes sociais, e até campanhas em espaços públicos nas quais os assessorados se dediquem à educação em saúde da população. E o conteúdo pode ser diversificado.
Um dos tópicos é a elucidação do funcionamento da ciência por meio do consenso científico que valida o uso seguro das vacinas a partir da realização de múltiplos estudos científicos por diferentes pesquisadores. E o esclarecimento de que, mesmo eficazes, há contra-indicações e riscos, como todo medicamento.
Esse diálogo de profissionais de saúde e pesquisadores com a população permite discutir um outro tópico que são as falácias propagadas pelo movimento antivacina. Entre elas, o “cherry picking” (apanhar cerejas, da tradução literal) quando um único estudo científico com resultados desfavoráveis é mencionado para se contrapor ao uso das vacinas, suprimindo dezenas de outras evidências científicas que levam ao consenso científico favorável.
Um outro tópico importante é instruir como as vacinas agem eficazmente no organismo humano, tornando-o resistente aos vírus, que também precisam ser didaticamente explicados. Dados de órgãos nacionais e internacionais como o MS e a OMS e de sociedades científicas podem auxiliar na argumentação.
Para além do acionamento de especialistas, a inclusão de representantes da própria população pode tornar a comunicação mais próxima de determinados públicos, o que também é um tópico relevante. Essa é uma das maneiras que tem atuado o Programa Nacional de Imunização (PNI), que em 2023 completou 50 anos com muitos desafios.
Em síntese, em Assessoria de Imprensa, visibilidade dos assessorados e responsabilidade social podem andar juntas. O desenvolvimento dos tópicos elencados e de outros necessários para a imunização da população do movimento antivacina demanda, contudo, que o assessor de imprensa esteja informado sobre saúde e ciência para agir com criatividade nas ações cotidianas e no desenvolvimento de campanhas.
*Vinícius de Lima é Jornalista com Mestrado em Informação e Comunicação em Saúde e consultor da agência RS desde 2019.