*Talita Ribeiro
O ano de 2023 foi marcado pelo lançamento de diversas ferramentas de Inteligência Artificial (AI) que movimentaram o mundo de tecnologia e deixaram jornalistas, roteiristas, dubladores e profissionais da comunicação em geral preocupados com o cenário do mercado de trabalho e sua rápida transformação. Se por um lado, a criação do ChatGPT proporciona agilidade na construção de textos, por outro, fica a dúvida: de onde vem a informação para a construção deste conteúdo?
A OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, alega que as informações disponíveis são acessadas por meio de um banco de dados, mas não menciona a fonte quando o texto é construído. Neste aspecto, não é possível realizar a checagem da informação para saber se de fato ela é verídica ou não. É neste contexto que o papel do jornalista se torna ainda mais importante porque faz parte da rotina dele checar os dados por meio de documentos e entrevistas com fontes, que de fato possuem o conhecimento necessário para a construção de um texto fidedigno.
Na última década, com o crescimento da audiência das redes sociais, especialmente no Brasil, que é considerado um dos campeões de acesso, influenciadores ganharam espaço de fala e o trabalho do jornalista foi depreciado. O artista Andy Warhol declarou em 1968 a seguinte frase: “No futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos”. Sua declaração se consolidou como uma profecia. Milhões de pessoas produzem todos os dias conteúdo para alimentar as redes sociais, concedendo o direito de uso das informações para as plataformas – de acordo com as entrelinhas dos contratos para o uso dos aplicativos que ninguém lê.
Todas as informações que são disponibilizadas por usuários de redes sociais abastecem os bancos de dados das grandes corporações como Meta, Microsoft, Google, entre outras. O conteúdo é utilizado para a qualificação de algoritmos que fazem a distribuição da informação, especialmente para entregar publicidade e impactar os potenciais consumidores. Mas não apenas isso. Esta base de dados também alimentam o desenvolvimento de novas ferramentas. A OpenAI acaba de divulgar a sua nova tecnologia para a criação de vídeos de até 60 segundos, a SORA, que está em fase final de teste. Os primeiros vídeos divulgados pela empresa que foram produzidos com o uso de inteligência artificial impressionam pela qualidade e realismo. Perguntada sobre qual sua base de dados para a construção das imagens, a empresa alegou que faz uso de conteúdo público, e que não será permitida a produção de vídeos com pessoas famosas, violência ou com temática sexual. Mas como será possível, no futuro próximo, distinguir o que é real e o que é ficção?
A informação corre solta, seja por vídeo, texto ou imagem, sem tempo para checagem e disseminada por qualquer tipo de pessoa – bem-intencionada, mal-intencionada, preparada ou despreparada. O futuro é de certa forma imprevisível, mas o que sabemos com certeza é que neste momento vivemos uma guerra não declarada, onde qualquer pessoa pode ser alvo de um hater escondido na trincheira. O jornalismo é a principal arma para a desinformação. E, neste contexto em um mundo onde todo mundo pode dizer o que quiser, cabe ao jornalista lutar o “bom combate”, realizando a apuração adequada dos fatos, conversando com todas as fontes envolvidas na história e tendo responsabilidade na divulgação de uma notícia.
*Talita Ribeiro é jornalista há 15 anos e especialista em estratégia de Comunicação Corporativa e gestão de crise na Agência RS.