Por Roberto Souza
O programa de vacinação no Brasil já tem meio século. Sempre foi um modelo para o mundo, em função de sua abrangência e de seus resultados. Mas como todo modelo, precisa estar em constante aperfeiçoamento. Uma das áreas que envolvem um programa de tamanha importância é a comunicação, que não tem sido aperfeiçoada ao longo dos anos.
No passado, bastavam as chamadas do Ministério da Saúde no rádio e na televisão e a publicação dos locais de vacinação nos jornais e, pronto, a população era informada e se dirigia aos postos e unidades de saúde.
Nos últimos anos, porém, tudo mudou: o rádio e a televisão não têm mais a audiência que tinham, as novas gerações não aderiram a esses veículos e o pior, começaram a chegar no Brasil as mensagens negacionistas e/ou antivacinação originárias nos Estados Unidos.
O resultado dessas transformações é visível e infelizmente danoso: baixos índices de vacinação e a volta de doenças que haviam sido erradicadas como poliomielite, sarampo, rubéola e difteria, entre outras. Um estudo conduzido pela Unicef apontou uma baixa percepção entre os pais e responsáveis do real risco que essas doenças representam. Por nunca terem convivido com a condição, muitos entendem que a vacina já não é mais necessária.
O jornalista Bruno Cesar Dias, doutorando em Saúde Pública na Escola Nacional Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (PPGSP/ENSP/Fiocruz), avalia que é necessário superar o modelo de comunicação historicamente implementado na área. Segundo ele, o chamado campanhismo – esforço do governo para prevenir doenças por meio de campanhas de vacinação e higiene – é claro, com mensagens delimitadas, determinadas, diretas e generalistas e chamadas para ações. Mas a tática não utiliza todas as ferramentas possíveis, como as redes sociais.
Esse modelo campanhista é, em boa parte, uma reprodução do modelo publicitário mais básico e há mais tempo estabelecido, e que guarda relações com uma ideia militar de atuação: frentes de ações, definição de recursos, hierarquias, metas. As ações do Estado e, centralmente, as ações da saúde pública, têm forte ligação com modelos e perspectivas de ação e gestão militares, salienta o colega da Fiocruz.
As mudanças na comunicação trazidas pela internet criam problemas que o modelo tradicional não consegue resolver, como as fakes news, por exemplo. O pesquisador ressalta que a resposta precisa ir além do trabalho feito pelas agências de checagem, mecanismo apresentado pelo mercado frente ao problema.
Para ele, é preciso fortalecer vínculos sociais e estimular canais de contato, com envolvimento essencial da sociedade civil. O processo tem potencial de ser o início da criação de uma rede de disseminação de boas práticas em saúde e combate à desinformação.
Quem também dá importante contribuição na área da comunicação é o Dr. Renato Kfouri, presidente da Diretoria Científica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Para ele, não basta apenas informar as pessoas de que existe vacina no posto ou sobre o dia ‘D’ da campanha de imunização: a estratégia precisa levar em conta as razões que fizeram parte significativa da população deixar de vacinar os filhos. O grande desafio da comunicação é continuar mantendo o engajamento na vacinação da população, avalia Kfouri.
Na minha avaliação, para recuperar os altos índices de imunização não faltam só vacinas, como no caso da dengue. Faltam maiores investimentos em campanhas educativas, além de treinamento para as equipes de comunicação dos governos, que devem adaptar os conteúdos de acordo com as características de cada mídia social e, desta forma, chegar até onde o povo está, ou seja, na telinha do celular!